
O dom do Espírito Santo é fruto da Páscoa de Cristo. Morto como homem, ele foi ressuscitado pelo Pai na força do Espírito Santo derramado sobre ele (cf. 1Tm 3,16; Rm 1,4). O Espírito torna-se a própria energia divina que sustenta e vivifica a natureza humana de Jesus, de tal modo que São Paulo chega a dizer que o Senhor Jesus é Espírito (cf. 2Cor 3,18). É assim que o Senhor Jesus se torna doador do Espírito Santo:“Exaltado pela Direita de Deus, ele (Jesus) recebeu do Pai o Espírito Santo prometido e o derramou” (At 2,33).
Este derramamento do Espírito deu-se no próprio dia da ressurreição, “na tarde daquele mesmo dia” (Jo 20,19): Jesus entrou no Cenáculo estando fechadas as portas, soprou sobre os Onze e disse: ‘Recebei o Espírito Santo” (Jo 20,22). Aqui nasce a Igreja, aqui os apóstolos são batizados no Espírito Santo, tornando-se cristãos, pois receberam aqui a vida nova do Cristo morto e ressuscitado!

Se procurarmos articular o dom do Espírito no dia mesmo da ressurreição (cf. Jo 20,19) com o dom do Espírito em Pentecostes (cf. At 2), podemos dizer o seguinte: o dom do Espírito em João, no dia da ressurreição, equivale ao nosso batismo, quando recebemos, no símbolo da água, o Espírito de vida do Cristo ressuscitado. Nele, recebemos uma vida nova, que germina até a glória eterna. Já o dom do Espírito em Pentecostes equivale à experiência de cada cristão no sacramento da crisma, quando nos é dado o Espírito de força para o testemunho de Jesus e a edificação do Corpo de Cristo, que é a Igreja. Agora, com a manifestação no Cenáculo, a Igreja abre as portas e começa a sair de si, lançando-se nas estradas do mundo para testemunhar Jesus e construir-se como comunidade dos discípulos daquele que morreu e ressuscitou.

Nunca esqueçamos que, sem o Espírito, não há nem pode haver Igreja. Somente nele, a vida do Cristo permanece e é continuamente renovada na Comunidade dos discípulos; somente no Espírito é possível viver em Cristo, fazer o bem por amor de Cristo... Somente no Espírito o Evangelho pode ser anunciado como boa-nova e não como letra morta e preceito exterior e opressor. É no Espírito Santo que a vida do Cristo não somente está no nosso meio, mas em nós, no nosso interior, inspirando-nos para o bem, dando-nos força contra o mal, plasmando em nós os sentimentos de Jesus e nos preparando para a vida eterna. Somente no Espírito a Comunidade pode se manter unida na verdadeira fé e ligada no mesmo amor, sem, contudo, sufocar as diversidades existentes. Só no Espírito, a Igreja pode se lançar para o futuro, sem ter medo das novidades e, ao mesmo tempo, manter-se fiel ao passado de sua origem, sem tornar-se ancrônica ou ultrapassada. É por tudo isso que o Espírito foi chamado pelos Santos Padres da Igreja Antiga de “alma da Igreja”: ele a vivifica, a mantém unida, a faz cresce e a conduz à plenitude. É também por isso que a Igreja é real e verdadeiramente Templo do Espírito Santo, que nela habita e repousa, nela permanecendo até transfigurá-la completamente no final dos tempos, quando, então, ela será plenamente Corpo do Cristo glorioso e povo de Deus Pai, para sempre.
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