quinta-feira, 23 de junho de 2011

Corpus Christi - A Eucaristia, comunhão com o Senhor

  +  PAX

Postarei alguns textos de Dom Henrique Soares da Costa, bispo auxiliar de Aracaju, para auxiliar nossa reflexão nessa Solenidade.
Espero que seja proveitosa!

Fiquem com Deus, sob as bênçãos de NP São Bento!



Ao cair desta tarde, com a oração das primeiras vésperas, a Mãe Igreja iniciou a celebração da Solenidade de Corpus Christi, festa da Eucaristia, proclamação da presença real do Cristo morto e ressuscitado no pão e no vinho consagrados. Tendo em mente o mistério eucarístico, São Paulo pergunta: “O cálice de bênção que abençoamos, não é comunhão com o sangue de Cristo? O pão que partimos, não é comunhão com o corpo de Cristo?” (1Cor 10,16) Tais afirmações, em forma de perguntas e, à primeira vista, tão simples, têm uma força e significação enormes.
Na Escritura Sagrada, o “sangue” não é simplesmente uma realidade material, o líquido vermelho que circula em nossas artérias, mas sobretudo a vida e, muitas vezes, a vida tirada violentamente. Dar o sangue quer dizer dar a vida, vida sofrida, violentada, arrancada de modo cruel. “Sangue de Cristo” significa, portanto, a vida de Jesus dada em sacrifício, tirada de modo violento; a vida que ele deu por nós. “Corpo”, por sua vez, não significa primeiramente os músculos humanos, mas sim o homem todo, a pessoa toda, na sua situação de criatura limitada, frágil, mortal. Assim, “corpo de Cristo” exprime a natureza humana que o Filho de Deus assumiu por nós de Maria, a Virgem: “O Verbo se fez carne” (Jo 1,14), quer, então, dizer, fez-se homem, fez-se realmente humano, com um corpo humano e uma alma humana, com inteligência, vontade, consciência, afeto, sentimentos e liberdade humanos. Então, dar o corpo significa dar-se todo, dar toda sua vida humana: seus sonhos, cansaços, desilusões, sofrimentos... Dar tudo quanto a pessoa é! Foi assim que Jesus se nos deu: em todo o seu ser, sem reservas; doou-nos sua vida e sua morte!
Pois bem, o Apóstolo afirma que o pão que partimos é comunhão com o corpo do Senhor. Palavra estupenda! Comungar na eucaristia significa entrar numa comunhão misteriosa e real com a pessoa mesma de Jesus; mas não uma pessoa desencarnada: é entrar em comunhão com tudo quanto ele viveu, experimentou em sua existência humana; é ter comunhão com os ideais de Jesus, com o modo de viver e agir de Jesus, com as opções, esperanças e angústias de Jesus, com o sofrimento de Jesus, com a morte e sepultura de Jesus, com a ressurreição e glorificação de Jesus! Comungar daquele pão é comungar com Jesus na totalidade da sua existência, é colocá-lo na nossa existência, não mais viver por nós mesmos, sozinhos conosco, do nosso modo, mas viver nossa vida na vida de Jesus, que por nós morreu e ressuscitou (cf. 2Cor 5,15)!
E o cálice, São Paulo diz que é comunhão no sangue de Cristo; quer dizer comunhão na sua entrega, na sua morte, morrida por nós! Participar do cálice do Senhor é estar dispostos a beber o cálice com ele, a ser batizados no batismo de morte no qual ele foi batizado (cf. Mc 10,38)! Portanto, participar do pão e do vinho eucarísticos é entrar em comunhão de vida e morte com o Senhor, é “com-viver” com Cristo, é conhecê-lo, conhecer o poder de sua ressurreição e a participação nos seus sofrimentos, “com-formando-nos” com ele na sua morte para alcançar a sua ressurreição dentre os mortos (cf. Fl 3,10).
Esta é a experiência central da vida cristã: viver nesta comunhão plena de vida e morte com o Senhor! E aqui, precisamente, cabe alguns urgentes questionamentos... Os cristãos têm consciência disso? Individualmente e como Igreja, temos presente esta nossa misteriosa e estupenda vocação, que é trazer em nosso corpo a agonia de Jesus, a fim de que a vida de Jesus seja também manifestada em nosso corpo (cf. Fl 4,10). Como os cristãos se comportam diante dos desafios da vida pessoal e comunitária? Estão os cristãos dispostos a viver para o Senhor ou somente para si mesmos, segundo a lógica do mundo contemporâneo? Nossa evangelização tem levado a esta comunhão existencial com o Cristo no mistério da sua vida, morte e ressurreição? Notemos que o que está em jogo aqui é a própria identidade do cristianismo! Sem esta consciência não há, de fato, uma vida cristã! Ser cristão não é primeiramente aderir a doutrinas ou a uma moral mas, antes de tudo, entrar em comunhão com Alguém, com o Senhor Jesus.
Pode-se, então, compreender aquelas palavras de fogo do santo bispo de Antioquia, Inácio, que no século I, ao dirigir-se para o martírio, no qual seria devorado pelas feras, exclamava: “Coisa alguma visível ou invisível me impeça de encontrar Jesus Cristo. Maravilhoso é para mim morrer por Jesus Cristo. A ele é que procuro, ele que morreu por nós; quero aquele que ressuscitou por nossa causa. Permiti que eu seja imitador do sofrimento do meu Deus! Meu amor está crucificado! Quero o pão de Deus que é a carne de Jesus Cristo, da descendência de Davi, e como bebida quero o sangue dele, que é amor incorruptível. Sou trigo de Deus e sou moído pelos dentes das feras, para encontrar-me como pão puro de Cristo. Quando lá chegar serei homem!” Palavras estonteantes! Inácio de Antioquia compreendera o que significava celebrar a eucaristia, participar do corpo e sangue do Senhor!
Que nossas eucaristias sejam realmente a celebração sacramental desta comunhão de vida, sonho, agir, morte e ressurreição com o Cristo, cujo Corpo e Sangue comungamos. É disto que o mundo tanto precisa; é isto que o mundo espera, mesmo sem o saber: o nosso testemunho de comunhão com o Salvador! Só assim tem realmente sentido proclamar nossa fé na presença real do Senhor no pão e no vinho eucarísticos.


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