domingo, 27 de fevereiro de 2011

Recado do Ir. Michael, obl. OSB

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Meus caros,
Benedicite!

Tomei a liberdade de escrever um resumo de nossa reunião do último domingo (20/02) que está a seguir.
Espero que seja proveitosa a todos.
Com meu carinho e minhas orações.


RESUMO DA REUNIÃO DOS OBLATOS DO MOSTEIRO DE SÃO JOÃO BATISTA DAS MONJAS BENEDITINAS DE CAMPOS DO JORDÃO – SP



A reunião dos oblatos do Mosteiro de São João Batista das monjas beneditinas da cidade de Campos do Jordão, São Paulo, neste mês de fevereiro, dia 20, Celebração do 7º Domingo do Tempo Comum foi a primeira deste ano de 2011 e ocorreu como de costume às 16h na sala “São Bento” nas dependências do referido mosteiro tendo como monjas diretorias dos oblatos Ir. Hildegardes e Ir. Nazaré. Nesta primeira reunião em especial, contamos com a presença de diversas pessoas que vieram para conhecer um pouco da realidade e da espiritualidade dos oblatos de São Bento e o que eles buscam, qual seu ideal de vida e suas aspirações espirituais.
Ir. Hildegardes iniciou sua conferência falando sobre o tema que será abordado ao longo de todo este ano: a oração. Em especial, falou na oportunidade o que vem a ser o “Ofício Divino”, pois ele faz parte da vida do monge e ocupa grande espaço na vida cotidiana dentro do mosteiro. Deverá ele, continuou Ir. Hildegardes, de igual modo também ser ou passar a ser um ponto importante na vida dos oblatos e oblatas em sua busca de santidade e vivência concreta de seu batismo, dentro da Igreja e na comunidade secular onde está inserido (a). Explicou ela que: “o Ofício Divino é a oração oficial da Igreja; o monge ao longo de todo o seu dia, durante diversos momentos, se reunirá em comunidade, preferencialmente, para a recitação do mesmo”. O oblato de uma forma particular, deverá se esforçar por recitar as Laudes, Vésperas e Completas demonstrando assim, uma perfeita união para com a comunidade monástica na qual está inserido. Claro que, destacou Ir. Hildegardes, jamais deverá o oblato deixar de cumprir suas obrigações como cristão, pai, mãe, esposo, esposa, leigo, leiga ou mesmo deixar de realizar a prática da caridade para com outrem em nome de um legalismo que quer sobrepor-se a todo e qualquer ato irrestritamente. Antes de mais nada, deverá o oblato, fazer de todo e qualquer ato que for praticado em nome do cumprimento de seus deveres, mesmo os seculares, uma perfeita oração e um oferecimento a Deus quando a recitação das horas do Ofício Divino se verem inviabilizadas por um motivo ou situação de força maior como uma doença ou grave enfermidade por exemplo.
A importância da oração, e sem dúvida do Ofício Divino, é destacada no Capítulo 58 da RB – Da maneira de proceder à recepção dos irmãos. No versículo 7 vai dizer o Santo Legislador: “[7] Que haja solicitude em ver se procura verdadeiramente a Deus, se é solícito para com o Ofício Divino, a obediência e os opróbrios”. Opróbrios aqui significam: combate, luta, tudo aquilo que me custa e que é difícil vencer. Aqui vemos destacados os três “Ós” dos quais o monge deverá estar disposto a abraçar ao ingressar na vida monástica: (1) Ofício Divino; (2) Obediência; (3) Opróbrios. No versículo 8 do mesmo capítulo diz: “[8] Sejam-lhe dadas a conhecer, previamente, todas as coisas duras e ásperas pelas quais se vai a Deus”. Neste contexto a oblação beneditina é uma das muitas vias que podemos livremente escolher na busca pela santidade. Se olharmos o Evangelho poderemos ver que o próprio Jesus nos recorda que esta “via de santidade” tem os seus frutos: "Em verdade vos digo: ninguém há que tenha deixado casa ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou filhos, ou terras por causa de mim e por causa do Evangelho que não receba, já neste século, cem vezes mais casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e terras, com perseguições e no século vindouro a vida eterna”.(Mc 10, 29-30). Vemos que teremos o “cêntuplo”, com perseguições, nesta terra e no futuro a vida eterna. E a chave para ingressar nesta via é: “tomar a sua cruz, a cada dia” e segui-lo.
Seguindo por esta linha de pensamento vemos claramente que o mosteiro não é um caminho “mágico”, “diferente”, mas uma via de santidade pela qual temos a chance de aproximarmo-nos mais e mais de Deus. Não estamos aqui a passeio, em um clube ou coisa assim. Estamos na “Escola do Serviço do Senhor!” (Prólogo RB, versículo 45).
Um segundo ponto de igual importância para a vida do monge/oblato e que São Bento também destaca na Santa Regra em seu capítulo 48 - “Do trabalho manual quotidiano” é que é preciso “sempre ocupar-se com algo”. Estes são os pilares da vida beneditina, segundo São Bento: Ora et Labora. Através deles o monge irá buscar sempre a Deus fazendo de sua vida um eterno louvor ao Criador.
A Regra de vida escrita por São Bento é sem sombra de dúvida “Cristocêntrica”, ou seja, Cristo está no centro de toda a proposta de vida pensada pelo Santo Legislador. Prova disto é o que observamos no Capítulo 4 da RB – “Quais são os instrumentos das boas obras” onde lemos: “[1] Primeiramente, amar ao Senhor Deus de todo o coração, com toda a alma, com todas as forças. [2] Depois, amar ao próximo como a si mesmo. [3] Em seguida, não matar. [4] Não cometer adultério. [5] Não furtar. [6] Não cobiçar. [7] Não levantar falso testemunho.
[8] Honrar todos os homens. [9] E não fazer a outrem o que não quer que lhe seja feito.
[10] Abnegar-se a si mesmo para seguir o Cristo. [11] Castigar o corpo. [12] Não abraçar as delícias. [13] Amar o jejum. [14] Reconfortar os pobres. [15] Vestir os nus. [16] Visitar os enfermos. [17] Sepultar os mortos. [18] Socorrer na tribulação. [19] Consolar o que sofre.
[20] Fazer-se alheio às coisas do mundo”... e na versículo 21 ele completa: “[21] Nada antepor ao amor de Cristo”. E transcorrendo toda a Santa Regra observaremos o Cristo vivo, presente, impulsionando todo o caminhar de São Bento, que nos versículos finais da mesma diz: “[11] nada absolutamente anteponham a Cristo - [12] que nos conduza juntos para a vida eterna”. (RB Capítulo 72, 11-12). Notamos com isto que, é pedido de cada um de nós a vivência da caridade. É preciso exercitá-la em nós para que, em um mundo sedento por Deus, possamos mostra-lo aos outros, não com simples palavras mas com nossas atitudes e ações.
Um outro ponto que também se faz importante na vida quotidiana do monge e que é destacado por São Bento no Capítulo 43 da RB - Dos que chegam tarde ao Ofício Divino ou à mesa. Em um primeiro momento parece que o Santo Legislador ao se preocupar com isto está perdendo seu tempo, mas não o está. O atraso, a demora é uma falha que se comete contra a “vida comum” existente dentro do claustro, ou seja, uma falha contra a própria comunidade monástica. Da mesma forma, o oblato por si só não existe, sua oblação só tem sentido uma vez que ele se vincula a uma comunidade de monges/monjas e esta comunidade recebe sua oblação feita a Deus.
Temos ainda um outro fator importante a ser destacado: a comunidade do mosteiro este reunida em torno do louvor divino cotidiano. E é em torno do Louvor Divino, ou seja da oração cotidiana no mosteiro que iniciamos nossa colocação. Assim, como o número 7 indica a perfeição, nos reunimos 7 vezes durante o dia para elevar a Deus nossa oração em nome de toda a Igreja. Voltemos novamente ao que São Bento diz no Capítulo 3 da Santa Regra: “nada se anteponha ao ofício divino”. Isso nos recorda também a importância que Jesus dava a oração tanto pessoal quanto comunitária. O Evangelho nos relata inúmeras vezes que Jesus se retirava a um lugar deserto para orar. Como um bom judeu que era, Jesus se preocupava em santificar tanto as horas do dia quanto as da noite. Em outro momento, narra o Evangelho, a comunidade dos discípulos lhe pede: “Senhor, ensina-nos a rezar...” e temos a linda oração do Pai-Nosso, que São Bento pede, seja dita pelo Abade nas Laudes e Vésperas afim de afugentar os espíritos do mal. E recordando mais uma vez as Sagradas Escrituras, lemos que na noite derradeira, Jesus se colocou em oração antes de ser entregue nas mãos de seus algozes. Assim sendo, nós que cremos no Cristo vivo e ressuscitado devemos viver na expectativa de sua volta. Nossa esperança deve ser a do Cristo que voltará. E, essa volta do Cristo para nós poderá ser a “Parusia” nos fins dos tempos ou mesmo nossa morte corporal, quando enfim, o Cristo se volta para nós e temos nosso encontro pessoal e definitivo com Ele.
Assim sendo, quando a comunidade monástica se reúne para a oração das “Vigílias”, recordamos e nos lembramos da volta do Amado de nossas almas (cf. o livro do “Cântico dos Cânticos”), rendemos louvores, pois Ele prometeu ficar conosco todos os dias até o fim dos tempos. E essa mesma esperança do Cristo que vive e reina entre nós, se estende por todas as demais horas canônicas, ou seja, “Laudes”, “Terça”, “Sexta”, “Nôa”, “Vésperas” e “Completas”.
Nas “Laudes”, ou Oração da Manhã, apresentamos a Deus nosso louvor e ação de graças por mais um dia. É entoado o cântico do “Benedictus”: “Bendito seja o Senhor Deus, que ao seu povo visitou e libertou e fez surgir um poderoso Salvador na casa de Davi seu servidor...”.
Na hora “Terça” recordamos a vinda do Espírito Santo sobre os apóstolos e a Virgem Maria lembrando-nos que só é possível ver Jesus quando estamos reunidos em comunidade. Aqui recordamos São Tomé que só viu o Senhor ressuscitado quando estava com a comunidade dos Apóstolos todos reunidos.
Na hora “Sexta” recordamos o sol que está a pino. Calor forte. Os primeiros monges que enfrentavam a solidão do deserto eram, nessa hora, tentados a desistir e a sucumbir às suas fraquezas e limitações. O hino que recitamos em nosso mosteiro nesta hora nos diz: “Põe termo às discórdias, extingue o fogo das paixões. Saúde os corpos vem nos dar, paz verdadeira aos corações”. Precisamos viver longe das discórdias e divisões. É preciso vencer as paixões mundanas. Não pode minha cabeça desejar o Cristo e meu coração estar preso a outros desejos. Quando uma “legião” de preocupações invadem nosso ser é preciso que estejamos a sós conosco mesmos para podermos nos conhecer, conhecer nossas limitações e fraquezas, e com isso, vencer o nosso adversário. O estar só comigo mesmo mostra a minha miséria e conhecendo minha miséria me volto a Deus para pedir o seu perdão e sobretudo a sua misericórdia.
Na hora “Nôa” o dia já se aproxima de seu fim. Recorda-nos a brevidade de nossa vida e como devemos buscar a Deus de todo o nosso coração. Diz o hino de nosso ofício: “Ó força e eterna luz, tens o poder em sua mão; sempre o mesmo tu dispões da luz do dia a sucessão. A tarde sem declínio concede-nos cheia de luz, de vida eterna prêmio ao qual morte santa conduz”.
Já na oração de “Vésperas” que constitui a oração que a Igreja reza ao pôr-do-sol, rendemos graças a Deus por todo o dia que se passou e a exemplo da Santíssima Virgem Maria entoamos o “Magnificat”: “A minh’alma engrandece ao Senhor, e exulta meu espírito em Deus, meu Salvador, pois Ele olhou a pequenez de sua serva...”.
E finalmente para fechar o ciclo do “Ofício Divino”, na oração de “Completas” nos recomendamos a Deus e nos entregamos em suas mãos a exemplo de Simeão: “Agora Senhor, podeis deixar vosso servo ir em paz, pois os meus olhos viram a vossa salvação, que preparaste ante a face das nações...”.
Eis, pois, a composição da oração oficial da Igreja, em torno da qual todos os dias nossa comunidade se reúne e a partir da Mesa da Santa Eucaristia rendemos graças a Deus, pois N’Ele somos, nos movemos e existimos.

Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, como era no princípio agora e sempre. Amém!

Nossa reunião foi finalizada por volta das 17h20 e como proposta de estudo para o próximo mês, Ir. Hildegardes ressaltou que observássemos o livro dos Salmos. Nele encontramos palavras de conforto, ação de graças, perdão. Se olharmos atentamente perceberemos que existe um salmo para cada situação que estejamos vivenciando. Ela pediu também que comecemos a verificar no saltério, quais são os salmos nos quais Deus nos fala diretamente, quais os salmos em que nós dirigimos nossas súplicas, ação de graças, pedidos e agradecimentos a Deus e ainda, quais os salmos nos quais nós oramos a Deus em nome de outras pessoas, intercedendo assim por elas. Bom estudo e boas reflexões a todos e todas. Até o próximo mês, se Deus assim nos permitir.
Para que em tudo seja Deus glorificado! U.I.O.G.D.

(Texto transcrito por Ir. Michael, obl. OSB)

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