“Chamados a viver em comunhão em muitos níveis primeiro a comunhão com Deus na oração e na contemplação, em seguida a comunhão com as irmãs da comunidade local. Depois a comunhão com as Igrejas locais onde os Mosteiros estão estabelecidos e a Igreja Universal, como também a comunhão com os cristãos de outras denominações e membros de religiões não-cristãs. Por último, não devemos nos esquecer da comunhão com a sociedade civil e com todos os cosmos.” (D.A.Veilleux)
Assim, iniciamos nossos encontros mensais com algumas reflexões sobre um dos votos da Profissão Monástica Beneditina e uma das promessas da oblação. Trata-se da Conversatio Morum entendida algumas vezes como conversão, significa, na realidade, a observância de toda a Regra, ou seja, assumir outra maneira de viver, tendo como guia o Evangelho (Prol, 21) e a RB, sob a direção de um abade (abadessa) “nada antepondo ao amor de Cristo”.
É importante lembrar ainda que este seja o ano do Evangelista Marcos, cuja preocupação com o discipulado é muito clara. Para Marcos, na visão de alguns exegetas, os discípulos são o xodó de Jesus.
Seu Evangelho tem início com a vocação dos primeiros discípulos: Pedro, André, Tiago e João. Os dois primeiros discípulos aceitam o convite de Jesus imediatamente. Largam as redes de pesca e o seguem. A formação acontece ao longo do caminho. Tiago e João deixam o pai e unem-se também a Jesus. Jesus promete fazer deles pescadores de homens – aproveitando o talento de cada um sabe capturar ou cativar.
No caso dos oblatos a vocação não os tira da família e do trabalho, mas a permanência neles assume outra forma.
Os instrumentos já não serão os mesmos uma vez que eles nos são dados por Nosso Pai São Bento na RB e incluem: a reverência a Deus através da obediência aos mandamentos, a reverencia aos irmãos com as obras de misericórdia, o serviço mútuo e um amor sem limites (amor ferventíssimo) – (RB 72)
Num total de 75 versículos São Bento nos desenreda do que pode criar obstáculos à nossa caminhada. Ele nos faz largar as redes que impedem nosso progresso espiritual.
Na Carta Apostólica “Porta Fidei” – A Porta da Fé, sua Santidade o Papa Bento XVI diz:
“Na medida da sua livre disponibilidade, os pensamentos e os afectos, a mentalidade e o comportamento do homem vão sendo pouco a pouco purificados e transformados, ao longo de um itinerário jamais completamente terminado nesta vida. A «fé, que actua pelo amor» (Gl 5, 6), torna-se um novo critério de entendimento e de acção, que muda toda a vida do homem (cf. Rm 12, 2; Cl 3, 9-10; Ef 4, 20-29; 2 Cor 5, 17).”
Refletir sobre a Conversatio Morum nos remete aos inúmeros convites à vida interior encontrados na RB:
RB 4,20 - Fazer-se alheio às coisas do mundo.
RB 4, 55- Ouvir de boa vontade as santas leituras
RB 4, 56 – Dar-se freqüentemente à oração
RB 19 – Cremos estar em toda parte a presença divina e que "os olhos do Senhor vêem em todo lugar os bons e os maus". Creiamos nisso principalmente e sem dúvida alguma, quando estamos presentes ao Ofício Divino. Lembremo-nos, pois, sempre, do que diz o Profeta: "Servi ao Senhor no temor". E também: "Salmodiai sabiamente". E ainda: "Cantar-vos-ei em face dos anjos". Consideremos, pois, de que maneira cumpre estar na presença da Divindade e de seus anjos; e tal seja a nossa presença na salmodia, que nossa mente concorde com nossa voz.
RB 20 – Oração breve e pura
RB 52 – Oratório do Mosteiro
No Capítulo 48 São Bento nos apresenta os fundamentos sobre os quais nos movemos no dia-a-dia: oração, trabalho e lectio divina. A Lectio (leitura orante da Bíblia) alimenta a oração e o trabalho a partir do encontro com Jesus na Palavra. E no riquíssimo Ordo Litúrgico que compreende os capítulos de 8 a 18, o Salmo 118, com seus 176 versículos, é indicado para a recitação a partir do domingo. Hoje, essa meditação da lei é recitada nas três horas menores do domingo e de segunda-feira e na hora terça a de terça-feira. Nela a Lei é expressa com o uso de inúmeros verbetes: preceitos, vontade, mandamentos, palavra, ordens, caminhos, decisões, prodígios, julgamentos, desígnios, testemunhos, luz, lâmpada luzente, conselhos. Destacamos aqui alguns versículos desse Salmo que podem nos ajudar no caminho da interiorização.
V1 – Feliz o homem sem pecado em seu caminho, que na lei do Senhor vai progredindo;
V2 – feliz o homem que observa seus preceitos e de todo o coração procura a Deus;
V66 – Dai-me bom senso, retidão, sabedoria, pois tenho fé nos vossos santos mandamentos;
V89 - É eterna, ó Senhor, vossa Palavra, ela é firme e estável como o céu.
V97 – Quanto eu amo, ó Senhor, a vossa lei, permaneço o dia inteiro a meditá-la.
V105 – Vossa lei é uma luz para os meus passos é uma lâmpada luzente em meu caminho.
V116 – Sustentai-me e viverei como dissestes não podeis decepcionar minha esperança.
V173 – Possa eu viver para sempre vos louvar e que me ajudem, Ó Senhor, vossos conselhos.
Segundo São Basílio Magno: “verdadeira voz da Igreja, o salmo é a iniciação dos que começam o crescimento dos que progridem a estabilidade dos perfeitos.”
Continuando nossas reflexões sobre a Conversatio Morum vemos a vida beneditina enraizada em três dimensões: o compromisso com uma comunidade, a fidelidade a um modo de vida e a obediência. É o desenvolvimento de uma nova maneira de viver e uma abertura para os desafios da vida espiritual.
Monges e oblatos assumem o compromisso de conversão dos costumes, estabilidade e obediência conscientemente, diante de Deus e de todos os santos, na presença da comunidade, mostram a Carta de Profissão escrita do próprio punho ao presidente da celebração, à abadessa e à assembléia. Há um compromisso interior de irreversibilidade. Refletimos que o compromisso absoluto só é possível se o crescimento espiritual continuar e se a comunidade estimular o seu desenvolvimento. Caminhamos juntos, nos apoiando, “nada antepondo ao amor de Cristo, que nos conduza juntos para a vida eterna, como dia Nosso Pai São Bento na conclusão do Capítulo 72 “Do bom zelo que os monges devem ter”.
Em doze versículos São Bento resume o que tinha em seu coração nos falando da perfeição da caridade fraterna. Para Madre Aquinata, São Bento coloca os capítulos precedentes sob o signo do amor e da convicção de que Cristo é o centro de tudo. Esse capítulo traz a chave da hermenêutica para a leitura da Regra inteira.
O Prólogo em seus primeiros e últimos versículos desenha a orientação geral da RB e ao mesmo tempo evidencia a personalidade de São bento.
Os quatro primeiros versículos do prólogo estão ligados ao último capítulo: “Escuta (Prol) - Conseguirás(RB 73). A vida monástica é um CAMINHO para Deus tendo como objetivo a pátria celeste. A Sagrada Escritura, os ensinamentos dos Pais e a RB nos ajudam a avançar.
Prol, 3 - A ti, pois, se dirige agora a minha palavra, quem quer que sejas que, renunciando às próprias vontades, empunhas as gloriosas e poderosíssimas armas da obediência para militar sob o Cristo Senhor, verdadeiro Rei.
RB 73, 8 – 9 - Tu, pois, quem quer que sejas que te apressas para a pátria celeste, realiza com o auxílio de Cristo esta mínima Regra de iniciação aqui escrita e, então, por fim, chegarás, com a proteção de Deus, aos maiores cumes da doutrina e das virtudes de que falamos acima. Amém.
A primeira palavra da RB e a última têm uma importância especial. Escuta ...alcançarás, chegarás.
Repetindo: toda a RB se encontra entre essas duas palavras.
Escuta quer dizer obedece e alcançarás o objetivo, uma promessa feita a cada um de nós, pessoalmente.
A Escuta caracteriza toda a espiritualidade da RB e indica a prioridade da receptividade e da acolhida bem expressa no capítulo 53, da recepção dos hóspedes.
São Bento nos interpela a oferecer um espaço aberto hospitaleiro onde os estranhos possam livrar-se de sua estranheza. Dai-lhes uma acolhida em nosso coração. Palavras como ajudar, servir, cuidar, orientar são uma forma de acolher.
A hospitalidade beneditina não é simplesmente um lugar para dormir, é lar e família (Chittister).
Voltando ao Prólogo: a Conversatio Morum encontra-se também no versículo 2 “para que voltes pelo labor da obediência àquele de quem te afastaste pela negligência da obediência – Aqui está o caminho da RB: a vida sobre a Terra é uma volta para Deus.”
A Conversatio Morum conduz a Deus. As Sagradas Escrituras, as doutrinas dos Santos Padres e a RB são subsídios para a caminhada e a obediência é o elemento essencial.
Entendemos o discipulado beneditino como vocação para assumir uma maneira de viver com uma nova atitude da mente e orientação da alma.
Essa forma de viver nos leva à unificação uma vida espiritual que une corpo e alma – assim Nosso Pai São Bento constrói o monge beneditino.
U.I.O.G.D
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