quinta-feira, 24 de junho de 2010

NATIVIDADE DE SÃO JOÃO BATISTA, QUE DÁ NOME A NOSSO MOSTEIRO




Boa noite, caros
Benedicite!

Publicamos abaixo, para celebrarmos a Solenidade de São João Batista, algumas homilias sobre este grande santo que proporcionou ao mundo a oportunidade de preparação, por meio do batismo de penitência, para receber o Senhor de toda a História!
Celebremos e meditemos!

Abraços em Cristo e em NP São Bento!



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João é seu nome
(Fr. Raniero Cantalamessa, OFMcap., pregador da Casa Pontifícia)

No espaço do XII domingo do Tempo Comum, este ano se celebra a Natividade de São João Batista. Trata-se de uma festa antiqüíssima; remonta ao século IV. Por que a data de 24 de junho? Ao anunciar o nascimento de Cristo a Maria, o anjo lhe diz que Isabel, sua parente, está no sexto mês. Portanto, o Batista devia nascer seis meses antes de Jesus e deste modo se respeita a cronologia (em 24, em vez de 25 de junho, se deve à forma de calcular dos antigos, não por dias, senão por Calendas, Idus e Nonas). Naturalmente, estas datas têm valor litúrgico e simbólico, não histórico. Não conhecemos o dia nem o ano exato do nascimento de Jesus e portanto tampouco de Batista. Mas isso muda o quê? O importante para a fé é o fato de que nasceu, não quando nasceu.

O culto difundiu-se rapidamente e João Batista converteu-se em um dos santos aos que estão dedicados mais igrejas no mundo. Vinte e três papas tomaram seu nome. Ao último deles, o Papa João XXIII, aplicou-se a frase que o Quarto Evangelho diz do Batista: «Houve um homem enviado por Deus; chamava-se João». Poucos sabem que a denominação das sete notas musicais (Do, Ré, Mi, Fá, Sol, Lá, Si) têm relação com João Batista. Obtêm-se da primeira sílaba dos sete versos da primeira estrofe do hino litúrgico composto em honra ao Batista.

A passagem do Evangelho fala da eleição do nome de João. Mas é importante também o que se escuta na primeira leitura e no salmo responsorial da festividade. A primeira leitura, do livro de Isaías, diz: «Desde o seio materno Iahweh me chamou, desde o ventre de minha mãe pronunciou o meu nome. De minha boca fez uma espada cortante, abrigou-me na sombra da sua mão; fez de mim uma seta afiada, escondeu-me na sua aljava». O salmo responsorial volta sobre este conceito de que Deus nos conhece desde o seio materno:

«Tu minhas vísceras formaste,
me teceste no ventre de minha mãe...
Meu embrião teus olhos viam».

Temos uma idéia muito redutiva e jurídica de pessoa que gera muita confusão no debate sobre o aborto. É como se uma criança adquirisse a dignidade de pessoa a partir do momento em que esta lhe é reconhecida pelas autoridades humanas. Para a Bíblia, pessoa é aquele que é conhecido por Deus, aquele a quem Deus chama por seu nome; e Deus, nos é assegurado, conhece-nos desde o seio materno, seus olhos nos viam quando éramos ainda embriões no seio de nossa mãe. A ciência nos diz que no embrião existe, em desenvolvimento, todo o homem, projetado em cada mínimo detalhe; a fé acrescenta que não se trata só de um projeto inconsciente da natureza, mas de um projeto de amor do Criador. A missão de São João Batista está toda traçada, antes que nasça: «E tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo, pois irás diante do Senhor para preparar seus caminhos...».

A Igreja considerou que João Batista foi santificado já no seio materno pela presença de Cristo; por isto celebra a festividade de seu nascimento. Isto nos oferece a ocasião para tocar num problema delicado, que se converteu em agudo por causa das milhões de crianças que, sobretudo pela terrível difusão do aborto, morrem sem ter recebido o batismo. O que dizer delas? Também foram de alguma maneira santificadas no seio materno? Há salvação para elas?

Minha resposta é sem vacilo: claro que há salvação para elas. Jesus ressuscitado diz também delas: «Deixai que as crianças venham a mim». Segundo uma opinião comum desde a Idade Média, as crianças não batizadas iam para o Limbo, um lugar intermediário no qual não se sofre, mas tampouco se goza da visão de Deus. Mas se trata de uma idéia que não foi jamais definida como verdade de fé pela Igreja. Era uma hipótese dos teólogos que, à luz do desenvolvimento da consciência cristã e da compreensão das Escrituras, já não podemos manter.

Quando expressei há tempo esta opinião minha em um destes comentários dominicais, recebi diferentes reações. Alguns mostravam gratidão por esta tomada de posição que lhes tirava um peso do coração; outros me reprovaram que entrasse na doutrina tradicional e diminuísse a importância do batismo. Agora a discussão está fechada, porque recentemente a Comissão Teológica Internacional, que trabalha para a Congregação [vaticana] para a Doutrina da Fé, publicou um documento no qual afirma o mesmo.

Parece-me útil voltar sobre o tema à luz deste importante documento, para explicar algumas das razões que levaram a Igreja a esta conclusão. Jesus instituiu os sacramentos como meios ordinários para a salvação. São, portanto, necessários, e quem, podendo-os receber, contra a própria consciência os rejeita ou os descuida, põe em sério perigo sua salvação eterna. Mas Deus não se atou a estes meios. Ele pode salvar também por vias extraordinárias, quando a pessoa, sem culpa sua, é privada do batismo. O fez, por exemplo, com os Santos Inocentes, mortos também eles sem batismo. A Igreja sempre admitiu a possibilidade de um batismo de desejo e de um batismo de sangue, e muitas destas crianças conheceram de verdade um batismo de sangue, ainda que de natureza distinta...

Não creio que a clarificação da Igreja alente o aborto; se assim fosse seria trágico e teria que se preocupar seriamente não da salvação das crianças não batizadas, mas dos pais batizados. Seria brincar de Deus. Tal declaração dará, ao contrário, um pouco de alívio aos crentes que, como todos, questionam-se consternados pela sorte atroz de muitas crianças do mundo de hoje.

Voltamos a João Batista e à festa do domingo. Ao anunciar a Zacarias o nascimento de seu filho, o anjo lhe disse: «Isabel, tua mulher, vai te dar um filho, ao qual porás o nome de João. Terás alegria e regozijo, e muitos se alegrarão com o seu nascimento» (Lucas 1, 13-14). Muitos na verdade se alegraram por seu nascimento, se à distância de vinte séculos seguimos ainda falando desse menino.

Desejaria fazer dessas palavras a expressão de um desejo a todos os pais e mães que, como Isabel e Zacarias, vivem o momento da espera ou do nascimento de um filho: que também vós possais regozijar-vos e alegrar-vos no menino ou na menina que Deus vos confiou e vos alegreis de seu nascimento por toda vossa vida e pela eternidade!

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Solenidade de São João Batista
(Dom Henrique Soares da Costa, bispo auxiliar de Aracaju - SE)



Além da Virgem Maria Mãe de Deus, Nossa Senhora, de nenhum outro santo a Igreja celebra o nascimento, a não ser São João, chamado Batista, Batizador. Dele, Jesus fez o maior elogio jamais feito pelo Salvador a alguém:“Em verdade vos digo que, entre os nascidos de mulher, não surgiu nenhum maior que João, o Batista” (Mt 11,11). Por isso, caríssimos, a hodierna solenidade!
Que lições, que meditações, que exemplos poderíamos colher nesta Festa, tendo escutado a Palavra que nos foi anunciada? Sugiro-vos três, que alimentem o coração, afervorem o desejo de colocar-se ao serviço do Senhor e nos conduzam à herança eterna.
Primeiro. A primeira leitura da Liturgia nos fez escutar a profecia de Isaías, colocando as palavras do profeta na boca de João Batista: “O Senhor chamou-me antes de eu nascer, desde o ventre de minha mãe ele tinha na mente o meu nome... fez de mim uma flecha aguçada e disse-me ‘Tu és meu servo, em quem serei glorificado’” E o salmo de meditação fez eco a tão bela idéia: “Senhor, vós me sondais e conheceis. Fostes vós que me formastes as entranhas/ e no seio de minha mãe vós me tecestes./ Até o mais íntimo me conheceis;/ nenhuma sequer de minhas fibras ignoráveis,/ quando eu era modelado ocultamente,/ era formado nas entranhas subterrâneas!” O que aparece aqui, caríssimos em Cristo, é que viemos a este mundo não por acaso, não sem um propósito. Somos todos fruto de um sonho de Deus, fomos todos misteriosamente chamados à vida: o Senhor pensou em nós, nos chamou, nos plasmou – e aqui estamos! O nascimento que hoje celebramos, do filho de Zacarias e Isabel, foi fruto do desígnio amoroso do Pai, que pelo Filho Jesus e para o Filho Jesus, na força do Espírito Santo, plasmou João. Por isso seu nome é tão verdadeiro: “Iohanah”, em hebraico: Deus dá a graça! Ele mesmo, João, já é uma graça de Deus para seus pais e para todos os que esperavam a salvação de Israel.
Hoje, quando um mundo insensível e descrente já não reconhece que a vida é um mistério de amor, é um chamado de Deus, quantos são abortados, quantos deixados de modo indigno e imoral no frio congelamento dos laboratórios de procriação artificial: lá esquecidos, lá manipulados em inaceitáveis experiências pseudo-científicas! Nós, caríssimos, que ouvimos a Palavra santa de Deus; nós, que nos alegramos com este nascimento, nunca esqueçamos: toda vida humana é sagrada do primeiro ao último instante do nosso caminho terreno. É imoral, perverso e desumano um governo que reduz a questão do aborto a problema de “política pública”. Um dia esses senhores irão prestar contas a Deus. Será mesmo que Deus aceitará este argumento, que não passa de disfarce para matar? Que o Senhor nos ajude a defender a vida, a gritar por ela! Que o Senhor também nos dê a sabedoria para descobrir e experimentar que a nossa vida – por quanto pobre e pequena – também e preciosa! Que hoje eu me pergunte: Qual o propósito da minha existência? Já o descobri? Já me conformei a ele? Vosso sou, Senhor, de vós nasci e para vós nasci! Que quereis fazer de mim?
Segundo. Ainda que a vida nossa seja fruto do amor do Senhor, isso não significa facilidades. João deveria preparar o caminho do Messias, do Cristo de Deus. E isto iria custar-lhe: “Eu disse: ‘Trabalhei em vão, gastei minhas forças sem fruto, inutilmente; entretanto o Senhor me fará justiça e o meu Deus me dará recompensa’” O grande desafio da nossa vida de crentes é viver na presença de Deus, é ser fiel à sua santa vontade e à missão que ele nos confiou. Ser fiel à missão custou a João: a dureza do deserto, as incompreensões dos inimigos, a trama de Herodíades, a dificuldade de perceber a vontade Deus (basta recordar João perguntando a Jesus: “És tu aquele que há de vir, ou devemos esperar um outro?”- Mt 11,3) e, finalmente, o aparente abandono, o aparente absurdo do silêncio de Deus, na solidão e na morte naquele cárcere. O que manteve João fiel até o fim? A confiança no Senhor, a capacidade de deixar-se guiar por Deus, sem querer ele mesmo controlar sua vida! Grande João! Fiel João! Pobre de Deus, João! Que exemplo para nós, tanta vez tentados a fazer da vida o que bem queremos, como se nascêssemos de nós mesmos e vivêssemos para nós mesmos! “Quer vivamos quer morramos, pertencemos ao Senhor! (Rm 14,8)”
Terceiro. Certa vez São Paulo escreveu: “Nenhum de nós vive para si...” (Rm 14,7) Desde o ventre materno, o Senhor chamou João para ser o que prepara o caminho, o que vem antes, o “pré-cursor” Toda a sua existência foi “precursar”! No terceiro evangelho isso aparece de modo comovente: anuncia-se o nascimento de João e depois o de Jesus; narra-se a natividade de João e a seguir a do Messias; apresenta-se o ministério de João e, após sua prisão, o do Salvador; finalmente, narra-se a morte de João, prenúncio da morte do nosso Senhor! Eis! Não é fácil não viver para si, não é fácil deixar que Outro seja o centro! E, no entanto, como diz a segunda leitura, “João declarou: ‘Eu não sou aquele que pensais que eu seja! Depois de mim vem Aquele, do qual nem mereço desamarrar as sandálias’”; “É necessário que ele cresça e eu diminua!” Santo profeta João Batista: sendo humilde, foi o maior dos nascidos de mulher; sendo totalmente preso à sua missão de modo fiel e constante, foi livre de verdade; sendo todo esquecido de si e lembrado de Deus, foi maduro e feliz! Por isso mesmo, seu nome foi verdadeiro e traduziu perfeitamente seu ser e sua missão: João, Iohanah: Deus dá a graça. E a graça que, para seus pais, foi João no seu nascimento, nas verdade era outra graça: a graça que Deus dá é Jesus, o Messias; graça que João anunciou com seu nascimento, com sua vida, com sua pregação e com sua morte!
Que este grande profeta, o maior do Antigo Testamento, do céu interceda por nós, nascidos do Novo Testamento e, por isso, maiores que João, o Grande Precursor! Amém.

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Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo
(Sermo 293,1-3: PL 38,1327-1328)
(Séc.V)


Voz do que clama no deserto


A Igreja celebra o nascimento de João como um acontecimento sagrado. Dentre os
nossos antepassados, não há nenhum cujo nascimento seja celebrado solenemente.
Celebramos o de João, celebramos também o de Cristo: tal fato tem, sem dúvida, uma
explicação. E se não a soubermos dar tão bem, como exige a importância desta
solenidade, pelo menos meditemos nela mais frutuosa e profundamente. João nasce de
uma anciã estéril; Cristo nasce de uma jovem virgem.
O pai de João não acredita que ele possa nascer e fica mudo; Maria acredita, e Cristo é
concebido pela fé. Eis o assunto que quisemos meditar e prometemos tratar. E se não
formos capazes de perscrutar toda a profundeza de tão grande mistério, por falta de
aptidão ou de tempo, aquele que fala dentro de vós, mesmo em nossa ausência, vos
ensinará melhor. Nele pensais com amor filial,a ele recebestes no coração, dele vos
tornastes templos.
João apareceu, pois, como ponto de encontro entre os dois Testamentos, o antigo e o
novo. O próprio Senhor o chama de limite quando diz: A lei e os profetas até João
Batista (Lc 16,16). Ele representa o antigo e anuncia o novo. Porque representa o
Antigo Testamento, nasce de pais idosos; porque anuncia o Novo Testamento, é
declarado profeta ainda estando nas entranhas da mãe. Na verdade, antes mesmo de
nascer, exultou de alegria no ventre materno, à chegada de Maria. Antes de nascer, já é
designado; revela-se de quem seria o precursor, antes de ser visto por ele. Tudo isto são
coisas divinas, que ultrapassam a limitação humana. Por fim, nasce. Recebe o nome e
solta-se a língua do pai. Relacionemos o acontecido com o simbolismo de todos estes
fatos.
Zacarias emudece e perde a voz até o nascimento de João, o precursor do Senhor; só
então recupera a voz. Que significa o silêncio de Zacarias? Não seria o sentido da
profecia que, antes da pregação de Cristo, estava, de certo modo, velado, oculto,
fechado? Mas com a vinda daquele a quem elas se referiam, tudo se abre e torna-se
claro. O fato de Zacarias recuperar a voz no nascimento de João tem o mesmo
significado que o rasgar-se o véu do templo, quando Cristo morreu na cruz. Se João se
anunciasse a si mesmo, Zacarias não abriria a boca. Solta-se a língua, porque nasce
aquele que é a voz. Com efeito, quando João já anunciava o Senhor, perguntaram-lhe:
Quem és tu? (Jo 1,19). E ele respondeu: Eu sou a voz do que clama no deserto (Jo 1,23).
João é a voz; o Senhor, porém,no princípio era a Palavra (Jo 1,1). João é a voz no
tempo; Cristo é, desde o princípio, a Palavra eterna.

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Homilia do Pe. Pavlos Tamanini (sacerdote ortodoxo)




o dia 24 de junho, os cristãos do Oriente e do Ocidente celebram o nascimento de São João Batista. Também coincide, nas duas tradições, a data em que se celebra o seu martírio em 29 de agosto. No Oriente bizantino, porém, as comemorações do grande Profeta e Precursor são sem dúvida mais numerosas.
Com relação ao nascimento, os calendários bizantinos assinalam, no dia 23 de setembro, a data da concepção do "glorioso Profeta, Precursor João, o que batizou Jesus no Jordão". Antigamente também os martirológios latinos registravam essa comemoração em 24 de setembro; porém a partir do século XV foi abolida.
Na tradição oriental é comum iconografar São João Batista na forma de um Anjo. Com efeito "era mais que um homem", como diz o evangelho, e a palavra "mensageiro" em grego aggeloV coincide com nossa tradução". Sendo um dos santos mais venerados no Oriente bizantino, é compreensível que muitas sejam as formas de representá-lo em ícones: encontramo-lo representado sozinho, ou em episódios da sua vida, especialmente o da sua decapitação.
João é filho de Zacarias que, por causa de sua pouca fé, tornou-se mudo, e de Isabel, aquela que era estéril. O nascimento de João Batista anuncia a chegada dos tempos messiânicos, nos quais a esterilidade se tornará fecundidade e o mutismo, exuberância profética.
O evangelho lhe dá o cognome de."Batista", porque ele anuncia um novo rito de ablução (Mt 3,13-17), na qual o batizado não imerge sozinho na água, como nos ritos e nos batismos judaicos, mas recebe a água das mãos de um ministro. João pretendia mostrar assim que o homem não se pode purificar sozinho, mas que toda santidade vem de Deus.
João Batista é também lembrado como um homem de grande mortificação. Talvez tenha ele sido iniciado esta disciplina nas comunidades religiosas do deserto. Mas a tradição lembra, sobretudo seu caráter profético. Ele é profeta por um duplo titulo. Antes de tudo é profeta no sentido em que essa palavra era entendida no Antigo Testamento; aliás, João é o maior dos profetas de Israel, porque pôde apontar o objeto de suas profecias (Mt 11,7-15; Jo 1,19 28). Para realçar essa pertença de João à grande descendência dos profetas do Antigo Testamento, Lucas nos narra seu nascimento, permitindo ver através dele o perfil das grandes vocações dos antigos profetas.
Mas o profeta não é apenas o anunciador do futuro messiânico; é essencialmente o portador da palavra de Deus e a testemunha da presença dessa Palavra criadora no mundo novo.
Ele aponta para os futuros discípulos de Cristo a quem esses deveriam seguir. Mostra o Cordeiro e orienta que o sigam.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

RECADO DE IR. NAZARÉ E IR. HILDEGARDES

Alegria em nossa comunidade monástica!

Dia 24 de junho, Solenidade de São João Batista, nossas queridas monjas Ir. Hildegardes e Ir. Maria de Nazaré, que acompanham nossos Oblatos, farão sua Profissão Solene.
Rezemos por elas e, se possível, compareçamos.

Clique na figura acima para ver o convite completo.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

SOLENIDADE DO SANTÍSSIMO CORPO E SANGUE DE CRISTO


EU SOU O PÃO VIVO DESCIDO DO CÉU QUEM DESTE PÃO COME, SEMPRE HÁ DE VIVER.

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MARTIROLÓGIO ROMANO-MONÁSTICO

A solenidade de Corpus Christi, quando a Igreja celebra festivamente o mistério eucarístico do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, real presença sob as aparências sensíveis do pão e do vinho, em memória de Sua Paixão sangrenta e em penhor da unidade de seu Corpo Místico, que é a Igreja.

Memória de São Carlos Lwanga e seus Companheiros. Em 1886, sete anos após a chegada dos primeiros missionários a Uganda, cerca de cem jovens cristãos foram condenados à morte por terem desejado permanecer fiéis à graça de seu batismo, na castidade e na oração. Vinte e dois católicos foram canonizados em 1964 e São Carlos Lwanga foi proclamado padroeiro celeste da juventude africana.

Em Arezzo, na Toscana, os santos irmãos mártires Pergentino e Laurentino. Apesar de serem ainda criancinhas, sofreram duros suplícios, e operaram, pela graça de Deus, grandes milagres, na perseguição de Décio. Afinal, foram mortos à espada, sob o prefeito Tibúrcio, nessa mesma cidade.

Em Constantinopla, os santos mártires Luciliano e as quatro crianças Cláudio, Hipácio, Paulo e Dinis. Luciliano, que de sacerdote idólatra se convertera a Cristo, sofreu vários tormentos, e foi depois lançado numa fornalha, junto com as crianças. Como uma forte chuva apagasse o fogo, todos eles saíram ilesos. Por fim, ele foi crucificado, e as crianças foram mortas à espada. Assim consumaram o martírio, sob o prefeito Silvano.

Em Córdova, na Espanha, o bem-aventurado Issac, monge, que com toda a coragem proclamou, diante dos mulçumanos, sua fé em Cristo, único mediador entre Deus e os homens. Por isso morreu ao fio da espada.

Em Constantinopla, Santa Paula, virgem e mártir, que, por recolher piedosamente o sangue dos supra ditos mártires Luciliano e as quatro crianças, foi presa, cruelmente açoitada e espancada, lançada numa fogueira, donde saiu indene. Afinal, degolaram-na no mesmo lugar, onde São Luciliano havia sido crucificado.

No ano da graça de 1051, São Davino, cristão armênio, que vendeu todos os seus bens e deu tudo aos pobres para se consagrar à vida ascética de peregrino. Morreu em Lucca, na Toscana.

Em Paris, Santa Clotilde, rainha, por cujas orações seu marido, Clóvis, rei dos Francos, aceitou a fé de Cristo.

Finalmente, em outros locais, aniversário de numerosos outros santos, cujos nomes estão inscritos no Livro da Vida.

- Terra, exulta de alegria, louva teu pastor e guia com teus hinos, tua voz.

- Tanto possas, tanto ouses, em louvá-lo não repouses: sempre excede o teu louvor.

- Hoje a Igreja te convida: ao pão vivo que dá vida, vem com ela celebrar.

- Este pão, que o mundo creia, por Jesus, na santa ceia, foi entregue aos que escolheu.

- Nosso júbilo cantemos, nosso amor manifestemos, pois transborda o coração.

- Quão solene a festa, o dia, que da santa Eucaristia nos recorda a instituição.

- Novo Rei e nova mesa, nova Páscoa e realeza, foi-se a páscoa dos judeus.

- Era sombra o antigo povo, o que é velho cede ao novo, foge a noite, chega a luz.

- O que o Cristo fez na ceia, manda à Igreja que o rodeia repeti-lo até voltar.

- Seu preceito conhecemos: pão e vinho consagremos para a nossa salvação.

Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo.

Sermo 3, De sacramento altaris ad infantes (Patrologia Latina 46, 827-828)


No corpo de Cristo, vos tornastes agora membros de Cristo


O ministério da Palavra e o cuidado com que vos geramos para que Cristo se forme em vós, nos levam a vos dizer o que seja este sacramento tão grande e tão divino, este remédio tão célebre e nobre, este sacrifício tão puro e tão fácil. Já não é mais em uma única cidade terrestre, Jerusalém, nem mais no tabernáculo construído por Moisés, nem no templo erguido por Salomão – tudo isso não era senão sombra de realidades futuras – mas é do nascer do sol até o seu ocaso (Sl 112 [113], 3), como predisseram os Profetas, que se imola e se oferece a Deus a vítima de louvor, segundo a graça do Novo Testamento.

Já não se vai mais buscar entre o rebanho uma vítima sangrenta, já não nos aproximamos do altar com uma ovelha, mas, de agora em diante, o sacrifício de nosso tempo é o corpo e o sangue do próprio sacerdote. Foi deste sacerdote que se predisse no salmo: Tu és sacerdote eternamente, segundo a ordem do rei Melquisedeque (Sl 109 [110], 4). Ora, lemos no Gêneses e bem sabemos que Melquisedeque, sacerdote do Altíssimo, ofereceu pão e vinho (cf. Gn 14, 18), quando abençoou nosso pai Abraão.

Cristo, nosso Senhor, que ofereceu, ao sofrer por nós, o que recebera ao nascer por nós, estabelecido sacerdote para a eternidade, instituiu o sacrifício do seu corpo e do seu sangue. Porque seu corpo, traspassado pela lança, deixou correr a água e o sangue pelo qual remiu nossos pecados. Lembrando-vos desta graça, realizando a vossa salvação com temor e tremor – pois é Deus que em vós opera – vós vos aproximais para participar deste altar. Reconhecei no pão o que pendeu da cruz, no cálice o que escorreu do lado aberto. Os antigos sacrifícios do povo de Deus significavam, em sua múltipla variedade, o único sacrifício que havia de vir. E tudo o que foi anunciado de modo múltiplo e diverso nos sacrifícios do Antigo Testamento, se relaciona com o sacrifício único, revelado no Novo.

Recebei, pois, e comei o corpo de Cristo, uma vez que, no corpo de Cristo, vos tornastes agora membros de Cristo. Recebei e bebei o sangue de Cristo. Para que não vos deixeis dispersar, comei aquele que é o vosso vínculo; para não parecerdes sem valor aos vossos próprios olhos, bebei aquele que é o preço pelo qual fostes resgatados. Quando comeis este alimento e bebeis esta bebida, eles se transformam em vós; assim vós também sois transformados no corpo de Cristo, se viveis na obediência e no fervor. Se tendes a vida nele, sereis com ele uma só carne. Porque este sacramento não vos apresenta o corpo de Cristo para dele vos separar. O Apóstolo nos lembra que isto foi predito na Sagrada Escritura: Os dois serão uma só carne. Este mistério é grande – eu digo isto com referência a Cristo e à Igreja (Ef 5, 32).

Em outro lugar foi dito a respeito da própria eucaristia: Porque há um só pão, nós, embora muitos, somos um só corpo (1Cor 10, 17). Começais, pois, a receber o que começastes a ser.


RECADO DA IR. MARIA DE FÁTIMA, OSB

Queridos Oblatos,

Quero comunicar que no dia 01 de Janeiro deste ano de 2010, foi sorteado pela Madre Myriam como padroeiro dos Oblatos, para este ano, Santo Ambrósio. Segue uma catequese de nosso Papa Bento XVI sobre este grande santo.

Em Cristo, Ir. Maria de Fátima, OSB



SANTO AMBRÓSIO

Por Papa Bento XVI
Tradução: Zenit
Fonte: Vaticano/Zenit



Queridos irmãos e irmãs:
O santo bispo Ambrósio, de quem vos falarei hoje, faleceu em Milão na noite entre os dias 3 e 4 de abril do ano 397. Era o amanhecer do sábado santo. No dia anterior, por volta das 17h, ele estava rezando, prostrado no leito, com os braços abertos em forma de cruz. Deste modo, participava do solene tríduo pascal, da morte e da ressurreição do Senhor. «Nós víamos que seus lábios se mexiam, testifica Paulino, o diácono fiel que por convite de Agostinho escreveu sua ‘Vida’, mas não escutávamos sua voz».

De repente, parecia que a situação chegava a seu fim. Honorato, bispo de Vercelli, que estava ajudando Ambrósio e que dormia no andar superior, acordou ao escutar uma voz que lhe repetia: «Levanta-te logo! Ambrósio está a ponto de morrer…». Honorato desceu imediatamente – continua contando Paulino – «e lhe ofereceu o santo Corpo do Senhor. Ao acabar de recebê-lo, Ambrósio entregou o espírito, levando consigo o viático. Deste modo, sua alma, alimentada pela virtude desse alimento, goza agora da companhia dos anjos» («Vida» 47).

Naquela sexta-feira santa do ano 297, os braços abertos de Ambrósio moribundo expressavam sua participação mística na morte e ressurreição do Senhor. Era sua última catequese: no silêncio das palavras, continuava falando com o testemunho da vida.

Ambrósio não era idoso quando faleceu. Não tinha nem sequer sessenta anos, pois nasceu por volta do ano 340 em Tréveris, onde seu pai era prefeito das Gálias. A família era cristã. Quando seu pai faleceu, sua mãe o levou a Roma, sendo ainda um menino, e lhe preparou para a carreira civil, dando-lhe uma sólida educação retórica e jurídica. Por volta do ano 370, propuseram-lhe governar as províncias de Emilia e Ligúria, com sede em Milão. Precisamente lá estava a luta entre ortodoxos e arianos, sobretudo depois da morte do bispo ariano Ausêncio. Ambrósio interveio para pacificar os espíritos das duas facções enfrentadas, e sua autoridade foi tal que, apesar de que não era mais que um simples catecúmeno, foi proclamado bispo de Milão pelo povo.

Até esse momento, Ambrósio era o mais alto magistrado do Império na Itália do norte. Sumamente preparado culturalmente, mas desprovido do conhecimento das Escrituras, o novo bispo dedicou-se a estudá-las com fervor. Aprendeu a conhecer e a comentar a Bíblia através das obras de Orígenes, o indiscutível mestre da «escola de Alexandria». Deste modo, Ambrósio levou ao ambiente latino a meditação das Escrituras começadas por Orígenes, começando no Ocidente a prática da «lectio divina».

O método da «lectio» chegou a guiar toda a pregação e os escritos de Ambrósio, que surgem precisamente da escuta orante da Palavra de Deus. Um célebre início de uma catequese ambrosiana mostra egregiamente a maneira em que o santo bispo aplicava o Antigo Testamento à vida cristã: «Quando lemos as histórias dos Patriarcas e as máximas dos Provérbios, enfrentamos cada dia a moral – diz o bispo de Milão a seus catecúmenos e aos neófitos – para que, formados por eles, vos acostumeis a entrar na vida dos Padres e a seguir o caminho da obediência aos preceitos divinos» («Os mistérios» 1, 1).

Em outras palavras, os neófitos e os catecúmenos, segundo o bispo, após ter aprendido a arte de viver moralmente, podiam considerar-se que já estavam preparados para os grandes mistérios de Cristo. Deste modo, a pregação de Ambrósio, que representa o coração de sua ingente obra literária, parte da leitura dos livros sagrados («os Patriarcas», ou seja, os livros históricos, e «os Provérbios», ou seja, os livros sapienciais), para viver segundo a Revelação divina.

É evidente que o testamento pessoal do pregador e a exemplaridade da comunidade cristã condiciona a eficácia da pregação. Desde este ponto de vista, é significativa uma passagem das «Confissões» de Santo Agostinho. Ele havia ido a Milão como professor de retórica; era cético, não cristão. Estava buscando, mas não era capaz de encontrar realmente a verdade cristã. Ao jovem retórico africano, cético e desesperado, não lhe moveram a converter-se definitivamente as belas homilias de Ambrósio (apesar de que as admirava muito). Foi mais o testemunho do bispo e de sua Igreja milanesa, que rezava e cantava, unida como um só corpo. Uma Igreja capaz de resistir à prepotência do imperador e de sua mãe, que nos primeiros dias do ano 386 haviam voltado a exigir a expropriação de um edifício de culto para as cerimônias dos arianos. No edifício que tinha que ser desapropriado, conta Agostinho, «o povo devoto velava, disposto a morrer com seu próprio bispo». Este testemunho das «Confissões» é belíssimo, pois mostra que algo estava acontecendo na intimidade de Agostinho, que continua dizendo: «E nós também, apesar de que ainda éramos tíbios, participávamos do movimento de todo o povo» («Confissões» 9, 7).

Da vida e do exemplo do bispo Ambrósio, Agostinho aprendeu a crer e a pregar. Podemos fazer referência a um famoso sermão do africano, que mereceu ser citado muitos séculos depois na Constituição conciliar «Dei Verbum»: «É necessário – adverte de fato a «Dei Verbum» no número 25 –, que todos os clérigos, sobretudo os sacerdotes de Cristo e os demais que, como os diáconos e catequistas, dedicam-se legitimamente ao ministério da palavra, submergem-se nas Escrituras com assídua leitura e com estudo diligente, para que nenhum deles acabe sendo – e aqui vem a citação de Agostinho – ‘pregador vazio e supérfluo da palavra de Deus, que não a escuta em seu interior’». Havia aprendido precisamente de Ambrósio essa «escuta em seu interior», essa assiduidade com a leitura da Sagrada Escritura com atitude de oração, para acolher realmente no coração e assimilar a Palavra de Deus.

Queridos irmãos e irmãs: quero apresentar-vos uma espécie de «ícone patrístico» que, interpretado à luz do que dissemos, representa eficazmente o coração da doutrina de Ambrósio. No mesmo livro das «Confissões», Agostinho narra seu encontro com Ambrósio, certamente um encontro de grande importância para a história da Igreja. Escreve que, quando visitava o bispo de Milão, sempre o via rodeado de pessoas cheias de problemas, por quem vivia para atender suas necessidades. Sempre havia uma longa fila que estava esperando pra falar com Ambrósio, para encontrar nele consolo e esperança. Quando Ambrósio não estava com eles, com as pessoas (e isso acontecia em brevíssimos espaços de tempo), ou estava alimentando o corpo com a comida necessária, ou o espírito com as leituras. Aqui Agostinho canta suas maravilhas, porque Ambrósio lia as Escrituras com a boca fechada, só com os olhos (cf. «Confissões». 6, 3). De fato, nos primeiros séculos cristãos, a leitura só se concebia para ser proclamada, e ler em voz alta facilitava também a compreensão a quem lia. O fato de que Ambrósio pudesse passar as páginas só com os olhos é para o admirado Agostinho uma capacidade singular de leitura e de familiaridade com as Escrituras. Pois bem, nessa leitura, na qual o coração se empenha por alcançar a compreensão da Palavra de Deus – este é o «ícone» do qual estamos falando –, pode-se entrever o método da catequese de Ambrósio: a própria Escritura, intimamente assimilada, sugere os conteúdos que é necessário anunciar para levar à conversão dos corações.

Deste modo, segundo o magistério de Ambrósio e de Agostinho, a catequese é inseparável do testemunho de vida. Pode servir também para o catequista o que escrevi na «Introdução ao cristianismo» sobre os teólogos. Quem educa na fé não pode correr o risco de apresentar-se como uma espécie de «clown», que recita um papel «por ofício». Mais ainda, utilizando uma imagem de Orígenes, escritor particularmente admirado por Ambrósio, tem de ser como o discípulo amado, que apoiou a cabeça no coração do Mestre, e lá aprendeu a maneira de pensar, de falar, de atuar. No final de tudo, o verdadeiro discípulo é quem anuncia o Evangelho da maneira mais confiável e eficaz.

Como o apóstolo João, o bispo Ambrósio, que nunca se cansava de repetir: «‘Omnia Christus est nobis’!; Cristo é tudo para nós!», continua sendo uma autêntica testemunha do Senhor. Com suas próprias palavras, cheias de amor por Jesus, concluímos assim nossa catequese: «‘Omnia Christus est nobis!’ Se queres curar uma ferida, ele é o médico; se estás ardendo de febre, ele é a fonte; se estás oprimido pela iniqüidade, ele é a justiça; se tens necessidade de ajuda, ele é a força, se tens medo da morte, ele é a vida; se desejas o céu, ele é o caminho; se estás nas trevas, ele é a luz… Provai e vede que bom é o Senhor, bem-aventurado o homem que espera nele!» («De virginitate» 16, 99). Nós também esperamos em Cristo. Dessa forma seremos bem-aventurados e viveremos na paz.